quarta-feira, 23 de abril de 2014

Sacerdócio e Eucaristia

1. Estes dias faremos lembrança da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.
Sabemos que a morte de Cristo é sua entrada para uma vida nova, a vida de Ressuscitado, a vida que permanecerá, mostrando claramente que Ele, Senhor da Vida e da morte, superou a morte.
Este mistério é grande e indica a nós cristãos que não é possível uma união com Cristo sem morrermos primeiramente a tudo o que constitui o velho mundo e o velho homem.
Participamos deste mistério na liturgia que nos proporciona realizar mais uma vez a morte e a vida do Senhor. Participar deste mistério implica em morrer para o pecado, renovar a nossa ressurreição para a vida da graça, o nosso empenho em realizar a nova criação que se inicia na Ressurreição de Cristo, e emprego maior da nossa liberdade espiritual, um privilégio que nos alcança o sacrifício redentor do Cristo: “Foi para a liberdade que Ele nos libertou”.

2. A Páscoa era a festa nacional do Povo Eleito, lembrança da sua libertação das mãos do opressor. A Páscoa permanece para nós, povo cristão, festa de libertação do pecado e da morte e de constituição em povo santo, em sacerdócio real. A celebramos com frutos quando temos a consciência de que entre nós há características de um povo de “remidos”, comprados e resgatados pelo sangue do Filho de Deus, nosso Salvador, e por isso as celebrações que já iniciamos é um convite a direcionarmos a nossa vida em caridade e obediência a Deus, e prolongarmos a Ele um culto de adoração em espírito e verdade que o Calvário inaugurou. Essa realidade é certeza e presença na Eucaristia.

3. Eucaristia que hoje celebramos fazendo memória da sua instituição, um rito memorial da nova aliança, certamente o aspecto mais evidente da nossa fé, a certeza de que Jesus Ressuscitado está em nosso meio, certeza que é acompanhada de uma evocação histórica do acontecimento realizado na última ceia. Todas as gerações proclamaram essa verdade na Celebração Eucarística: Jesus está vivo, ressuscitado no meio de nós. A Eucaristia é o centro e a vida da Igreja, sem a mesma, a Igreja não existiria.
O “fazei isto em memória de mim”, exige cooperadores para que este mistério aconteça. Jesus confia essa missão aos apóstolos, aos seus sucessores – os bispos, e aos presbíteros. Nasce assim, junto com o sacramento da imortalidade, o sacramento do sacerdócio da nova lei. Somente homens, separados por Deus e devidamente preparados, são ordenados e podem realizar em nosso meio o milagre da Eucaristia. Sem o sacerdócio não há Eucaristia. Sem Eucaristia não há Igreja, por isso o mistério é grande e um elemento é essencial ao outro.

4. A instituição do ministério sacerdotal traz como sua essência o serviço fraterno da caridade, é por isso que Jesus lava os pés dos seus; muito mais que um gesto serviçal é um gesto de amor, que vem acompanhado do seguinte exemplo: lavai os pés uns dos outros, assim como eu vos lavei.
No gesto do lava pés encontramos essencialmente o testamento de Jesus em palavras e exemplo, não só aos sacerdotes, mas, a todo povo que lhe pertence. É preciso fazer o mesmo entre irmãos. É preciso fazer como ele, em todo tempo, no meio da comunidade e dos irmãos, a celebração de serviços mútuos e mais diversos, livres de qualquer interesse, nos quais se tornem presentes o amor supremo do Cristo pelos seus, amor que amou até o fim. Neste sentido a Eucaristia, que é doação plena de amor, se entende em cada gesto de amor, que se torna igualmente “sacramento”, imagem de uma única realidade: o amor do Pai em Cristo, o amor, em Cristo, de todos os que creem.

5. São os sacerdotes, de fato, os primeiros a darem o exemplo, por palavras e gestos. Porém, não nos esqueçamos de que eles são “humanos”, portanto, falhos, necessitados e pecadores, que necessitam de ajuda, de oração, de conselhos, correção, mas, sobretudo de abraço, carinho e compreensão.
Nosso bispo pela manhã, dizia-nos na missa crismal, em forma de pedido, que os sacerdotes amassem profundamente o povo a eles confiados e demonstrassem um carinho infinito, como de um pai a seus filhos. Temos nos esforçado para isso, mas, algumas vezes para encontrarmos as forças necessárias, precisamos nos confiar também como “filhos” no meio do nosso povo, para que a recíproca seja verdadeira, e essa dimensão da caridade se realize mais completamente em nosso meio.

6. Jesus se dá em alimento, a Eucaristia é o sacramento do amor, desta realidade que estamos falando. Em suma, é a mesma realidade do rito daquela ceia derradeira (que na verdade foi a primeira), em sua repetição até a volta do Senhor, e em sua necessária simplicidade de forma, estilizada ao longo dos séculos. Esta realidade só pode compreender quem é “iniciado à fé”, ou seja, quem recebeu catequese adequada e fez uma profunda experiência de fé, que tem a compreensão acompanhada do esforço de viver todos os dias aquilo que se exprime e celebra na assembléia. Não vemos Jesus se “materializar” no pão e no vinho, o que fazemos em cada celebração é uma profunda experiência de fé e certeza, de que Ele se faz presente no meio de nós neste sacramento salutar.
Uma experiência que não é abstrata, muito menos mágica, mas real, que implica na nossa união com Cristo, pois só participamos autenticamente da Eucaristia, que é memorial do sacrifício de Jesus, quando ela é também memorial do nosso sacrifício e da nossa vida. Ou seja, pertencemos ao Corpo de Cristo, que é um corpo eucarístico.

7. A ação de graças que celebramos na qual está presente de modo real e verdadeiro o Senhor morto e ressuscitado no pão e no vinho, se estende à pessoa dos irmãos, sobretudo, os mais pobres. Aqueles que fazem discriminação, desprezam os outros, alimentam divisões, não podem reconhecer o corpo do Senhor. Para estes últimos a missa não é mais Ceia do Senhor, mas um rito vazio que expressa sua condenação.


8. Por fim, não é a Eucaristia que nasce do sacerdócio, mas o sacerdócio que nasce da Eucaristia.
Dentro da comunidade, as relações recíprocas devem ser avaliadas em nível de serviço e não de poder, estas encontram sua perfeita expressão no momento da celebração eucarística. Quem “preside” à comunidade e é por ela responsável, preside também à Eucaristia; reúne-a na oração comum, como também é o elo de unidade nas diversas atividade realizadas ligadas à pregação da Palavra e a vivência da caridade.
Para ser coerentes com seu ministério sacramental, o bispo com os sacerdotes e os diáconos são os mais próximo do Cristo servo na consagração total de suas forças e sua vida naquilo que diz respeito a toda atividade da Igreja: "Os presbíteros... segundo a imagem de Cristo, sumo e eterno Sacerdote, são consagrados para pregar o evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino, de maneira que são verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento. Participando, no grau próprio de seu ministério, da função de Cristo Mediador único (cf 1Tm 2,5), a todos anunciam a palavra de Deus. Eles exercem seu sagrado múnus principalmente no culto eucarístico ou sintaxe, na qual, agindo na pessoa de Cristo e proclamando seu mistério, eles unem Os votos dos fiéis ao sacrifício de sua Cabeça e, até a volta do Senhor, apresentam e aplicam no sacrifício da missa o único sacrifício do Novo Testamento, isto é, o sacrifício de Cristo que, como hóstia imaculada, uma vez por todas se ofereceu ao Pai... Exercendo, dentro do âmbito que lhes compete, o múnus de Cristo Pastor e Cabeça, eles congregam a família de Deus numa fraternidade a tender para a unidade e a conduzem a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo... De coração, feitos modelos para o rebanho, presidam e sirvam de tal modo sua comunidade local, que esta dignamente possa ser chamada com aquele nome pelo qual só e todo o Povo de Deus é distinguido, a saber: Igreja de Deus". (LG 28)

Pe. Rodolfo Marinho de Sousa.
Referencia: Missal Dominical, Paulus.

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